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quarta-feira, 13 de abril de 2011

A Casa de Vontade

   Era uma casa muito engraçada, não tinha tecto, não tinha nada.
   Mas era lá que eu morava. Por escolha ou por briga, ainda não sei bem. Só sei que a casa só dava intriga e nos fez refém. O preconceito se fez de muro e da diferença um vidro escuro. E não se via, e não se via e era negra, sem luz do dia. E da janela sabia a pouco, nesse sufoco com cheiro a mofo. E eu só queria, que a casa fria, sentisse o quente, como eu sentia. A irritação veio só depois, quando na casa já não eram dois. Finados, os dois defuntos, morriam sempre, mas nunca juntos.

   Ninguém podia entrar nela, não, porque a casa não tinha chão.
   Ignorando esta condição, entrámos sim, já dada a mão. Mas ninguém vive sem tecto e chão, não há base nem sustentação. Eu refilei toda a santa hora, refilo ainda, refilo agora. Tu foste embora, eu não te censuro, a casa é velha, precisa aprumo. Não dá pr'a ter casa de amor, feita só com vontade; nem que sej'amor de verdade! Porque se há coisa que se sabe, se mais não, é que não se mente a vontade. Ela cumpre o coração.

   Mas era feita com muito esmero, na rua dos bobos, número 0.
   É isto que a vontade tem de bonito. Negar, à partida, o que já vem escrito.


PS- Eu também me mudava, em poder. Mas tenho tanta vontade investida que acho que vou ficar a balançar a rede nesta sem-parede, a ver o céu de estrelas cru, com o pé na lama. Há sempre dias e o tempo não deixa de vir.


2 comentários:

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