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Num volte-face, quando eu puder, viro menina-mulher.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

A cambada

   A cambada fez o que quis com o q'eu lhe dei. Espesinhou-me o coração. Queimou-me os olhos. Esgravatou-me o peito até sair o podre e ficar o novo. O podre. A cambada pensa amor-podre. Deu-me em ódio e raiva novidades de prudência e mágoa. Violou-me a criança, esfolou-ma de dentro para fora. Desgraçou-me a família que não vou chegar a ter. Fez-me do praguejo prece, sem me obrigar, o que ainda sangrou mais. Lanhou-me a boca. Cortou-me os dedos um a um, duas mãos cheias de vezes. Pregou-me os pés ao chão. Depois arrancou-os sem aviso. Gravou ferros nas minhas coxas, fiquei marcada de ninguém. Espetou-me de estoque, punhal, adaga e espada... Esfarrapou-me a língua para não me queixar. 
   Mas a cambada é minha. A cambada nunca me abandona. Criatura fiel. Nunca desaparece. Não vai embora. Participação activa dos meus medos, das minhas vontades, das vontades dos outros em mim, dos medos dos outros sobre mim.  Me dobra, me quebra, me rompe. Dobro-me, quebro-me, rompo-me! Sou eu a Cambada. Eu e os outros que sou eu, afinal. Eu lhe fiz. Grosseira, tosca, rude, nojenta, má, mesquinha e egoísta. Fi-la da minha merda. E a minha merda persegue-me. Persegue-me, engrossa-se e ganha-me! A parte vence o todo. A parte, sozinha, garante um todo cobarde. Um todo no sofá, um todo apático. Morno e aliviado. Desertor duma luta que não consegue travar, porque já nem inteiro é.  
   Alvíssaras! A força chegará. A aceitação da verdade da cambada é o caminho. Fazer o todo inteiro, não a ignorando, não lhe fugindo. 
    A cambada são bichos que me vêm comendo o cérebro.
   
 

3 comentários:

  1. não saber de ti é não ser e não estar
    e eu confesso-me aonde posso, esperando, com todas as forças, que estejas feliz e que nada te careça

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  2. e agora ja vens ter cmg a sidney? ja tou farto de viver sem ti.

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  3. Se morrer, mando postal do Inferno. Fica a promessa, daquelas a ser cumpridas.

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